Kawasaki por "Dr. Gustavo Favaro"


A doença de Kawasaki, também chamada de Síndrome de linfonodos mucocutâneos, foi descrita pelo Dr. Tomisaku Kawasaki, um pediatra japonês, que reconheceu que muitos adolescentes japoneses apresentavam doença cardíaca precoce por volta de 1961. É a doença cardíaca adquirida mais comum em crianças em todo o mundo.

A doença de Kawasaki é mais proeminente em indivíduos asiáticos e em criança menores que 5 anos de idade (80% das crianças afetadas são menores de cinco anos). Afeta mais meninos que meninas, em raros casos crianças com apenas alguns meses de idade e adolescentes podem ser afetados.

A apresentação clássica da doença é uma febre elevada, de no mínimo 5 dias e que pode durar até duas semanas, apesar do tratamento com acetaminofeno, dipirona ou ibuprofeno. Outros sintomas podem incluir linfadenopatia cervical, conjuntivite, eritema oral, palmar e plantar, descamação subungueal e edema das mãos e dos pés.

Trata-se de uma inflamação das artérias (vasculite), de provável origem auto-imune, não se excluindo etiologia viral. Ela inflama as artérias de médio porte e afeta vários órgãos do corpo, incluindo a pele, membranas mucosas, os nódulos linfáticos, as paredes dos vasos sanguíneos, e mais importante, o coração. Tendo como complicação mais grave o envolvimento das artérias coronárias. Fato que pode ocorrer em cerca de 25% dos pacientes não tratados. Já com a administração de aspirina e tratamento com imunoglobulina intravenosa, apenas 4% dos pacientes desenvolvem seqüelas cardiovasculares graves.

Dentre as recentes descobertas médicas, foi descrito associação entre alguns genes e alterações no sistema imunológico de crianças com a doença. Nesse sentido, crianças portadoras desses genes teriam uma pior defesa do organismo, sendo mais suceptíveis a algumas doenças, inclusive o Kawasaki.

Após a fase aguda (até 2 semanas de doença) e tratamento adequado, as crianças devem permanecer em acompanhamento por no mínimo dois anos, mesmo sem ter apresentado qualquer complicação.

A incidência da doença de Kawasaki está aumentando em todo o mundo. Por isso, para prevenir suas complicações e sequelas o diagnóstico e tratamento precoces são essenciais. Muitas vezes, o diagnóstico diferencial da doença de Kawasaki é complexo e demanda profissionais especializados, particularmente em casos que não apresentem os sinais e sintomas clássicos.

Na prática diária e em nosso contexto, temos vistos inúmeros e crescentes casos da doença, sendo similar à frequência relatada na literatura médica, em torno de 4% de dilatação de artérias coronárias, mesmo após tratamento.

Complicações tardias realmente são raras, mas deve-se ter especial atenção durante a fase de adolescência, nos casos de crianças que evoluíram com dilatação das artérias coronárias, mesmo que essa tenha se revertido na evolução, no intuito de liberar exercícios físicos estenuantes e treinamento atlético, típicos dessa fase da vida.

Portanto, trata-se de uma doença com diagnóstico cada vez mais frequente, com potencial de complicações graves, no entanto, com uma evolução potencialmente favorável através do diagnóstico e do tratamento precoces.


Dr. Gustavo A. G. Fávaro
Cardiologia e Ecocardiografia pediátrica e fetal
Doutor em Ciências pelo Instituto do Coração (Incor)
Alameda Santos, 211, cj704, São Paulo, tel:32541010

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