Nath e o Kawaski


Tudo começou na quarta-feira, no feriado do dia 07 de setembro de 2011.

Estávamos em um buffet numa festa Infantil. A Nath estavabastante quietinha naquele dia e nem queria brincar. Verificamos que tinha febre. Medicamos com dipirona e,quando a febre finalmente passou, ela começou a se divertirnormalmente nos brinquedos...

Na sexta-feira, 09 de setembro, ela novamente teve febre. Dessa vez, constante e alta (média de 39). Levamos ela no Pronto Atendimento do Pediatra, que diagnosticou uma sinusite, exantema viral. Receitou Novamox. Já em casa, 24hrs depois, as manchas vermelhas pelo corpinho se intensificaram. A boca estava extremamente vermelha e ela completamente caída. Ligamos para o pediatra no domingo, que nos deu a seguinte instrução: "Suspendam o remédio. Possível alergia. Amanhã cedo traga ela aqui para examinarmos melhor".  Resolvemos, então levá-la para o PS,no mesmo domingo, 11/09/11, aproximadamente 18:00hrs.

A idéia era levá-la para o Hospital Sabará, mas como moramos na zona sul e o Sabará está próximo a Av. Paulista, decidimos levá-la em uma clínica próxima de casa, mas apediatra de plantão disse que nada podia fazer, já que a Clínica não tinha estrutura para exames, apenas atendimentos.

Deus com certeza nos guiou para o Sabará.

Lá chegando, havia uma fila de espera bastante razoável, mas na triagem, realizada antes do atendimento, já constataram febre altíssima (40 graus). Medicaram e logo nos dirigimos para o atendimento.

A pediatra solicitou exames de sangue. Ficamos em uma espécie de quarto, colheram o sangue da pequena Nath e aguardamos o resultado. Meia hora depois, a mesma enfermeira entra no quarto e diz que precisaria repetir o exame. Os sentimentos nessa hora variam de “não furem de novo minha pequena, por favor,” a “tem algo errado aí, já que vão repetir o exame”.

Em 10 minutos, o Dr. Márcio Miasato entra em nosso quarto e dá a notícia: “A Nathália tem uma doença rara chamada “Kawasaki”, que pode causar danos ao coração se não diagnosticada a tempo. Mas fiquem tranqüilos, ela está no local certo, com a equipe certa e na hora certa. Faremos a internação dela agora e apenas um de vocês poderá ficar no quarto internado com ela”.

A partir dessa frase, nosso mundo caiu. Desesperados com esse nome - que para nós não passava de uma marca de moto – entramos na internet em nossos celulares com acesso à rede, e o Google só nos trouxe coisas terríveis...

- filho de ator famoso morre em decorrência do kawasaki

- crianças com seqüelas no coração

- crianças que não podem fazer atividades físicas em decorrência do kawasaki, etc.

Chorávamos, tentávamos manter a calma, chorávamos, ligávamos para o Pediatra, chorávamos, ligávamos para a família, chorávamos... E assim foi.

O Paulo ficou com a Nath aguardando o quarto para a internação e, por volta das 23:00, peguei o carro e fui pra casa fazer a mala pra eu e ela passarmos alguns dias no Sabará. Nesse trajeto, que foi feito em menos de 15 minutos (sendo que o normal seria no mínimo 30 minutos), muitas coisas passaram pela minha cabeça. “Será que agüento essa luta?", "será que minha pequena vai sofrer?", "será que estou no hospital certo?", "por que tinha que ser ela?”. Mas em nenhum momento a pergunta “será que ela vai sair dessa?” passou pela minha cabeça! A certeza de que tudo acabaria bem no final sempre existiu... e a luta estava apenas começando...

À meia noite já estava eu de volta no hospital. O Paulo e a Nathália já estavam acomodados no quarto. Ele foi embora cuidar do André que até então estava com meus pais e eu tive a minha primeira noite no hospital... acordada!

Ela dormia naquela cama de hospital imensa... tomando soro... Eu deitei no sofá, virada pra ela e não tirava os olhos dela... Cada mexida, cada suspiro, cada resmungo... eu não piscava... Decidi então virar de costas, e dormir olhando para a parede, 5 minutos depois desisti e passei a madrugada olhando para a minha pequena.

Logo pela manhã, mais exames e a visita de uma Pediatra Infectologista. A Dra. Adriana Melo diagnosticou a doença e solicitou a internação na UTI para o dia seguinte para que fosse administrada a imunoglobulina endovenosa por 12 horas. Sim! 12 horas!!!

Nessa manhã, fiz várias ligações: para a família, pedindo que rezassem por ela; para meu chefe, avisando da minha ausência por tempo indeterminado (rs); e para o Pediatra, que a acompanhou desde o nascimento, pra que ele fizesse uma visita e me confirmasse ou não (sim, ainda tinha esperanças de que tudo não passava de um engano), o diagnóstico dado pelo hospital.

Terça-feira, 13 de Setembro, o Dr. Haidar, pediatra da Nathália, veio nos fazer uma visita. Leu prontuários e falou com a Dra. Adriana. Sim, era kawasaki. Vamos para a UTI!

Já na UTI, foi realizado o Ecocardiograma, resultado:

- derrame pericárdio discreto (é o acúmulo anormal de fluido na cavidade pericárdica, conjunto de membranas que envolve o coração. Devido ao pouco espaço, a acumulação de fluido causa aumento da pressão intrapericárdica e pode afetar negativamente as funções cardíacas, causando um tamponamento cardíaco. As respostas à injúria dopericardio pode incluir exsudação de líquido pelas células dos folhetos, com formação de derrame pericárdico, cujas características variam segundo o agente etiológico. Fonte: Wikipedia)

- insuficiência mitral ( é o fluxo retrógrado de sangue pela válvula mitral, que não fecha bem de cada vez que o ventrículo esquerdo se contrai. Fonte: Wikipedia)
Durante esses dias já estava de posse do meu notebook e acaça à informações sobre a doença era constante. Achei alguns materiais de médicos, muito técnicos, dois ou três relatos de mães que passaram por isso com seus filhos e muita coisa em sites internacionais: fundações de apoio as famílias, histórias de crianças com kawasaki, perfis no facebook, livros, etc..  Tentarei disponibilizar essas informações aqui nesse blog.

Foram exames diários, perda de veias diárias e novos acessos pra se achar novas veias, muitas medicações, muito sofrimento para a Tata, e nós sofrendo juntos.

Também durante esses dias, o Paulo nos visitava diariamente usando seu horário de almoço e no final do dia. Sempre preocupado e atencioso, mas às vezes amuado, resultado desse terremoto em nossas vidas. Eu sempre estava prontapra dar força, coragem e otimismo, 3 palavras e sentimentos que não sei da onde tirei, mas que ficaram presentes em cada minuto dentro daquele hospital.

Aproveitando esse ensejo, preciso relatar um fato engraçado para deixar essa história mais alegre: no segundo dia de UTI, quando o Paulo chegou em seu horário habitual, as 12:30, pedi que ficasse com ela para que eu fosse ao Mc Donald´s pois não agüentava mais a comida do hospital. Ele me pediu que trouxesse batata frita pra ele. Pois bem. Almocei feliz da vida no Mc, não pelo lanche, mas por olhar a rua... observar as pessoas passando... ver o céu... E levei a batata para o Paulo. A Nathália, que não comia há dias pela debilidade da doença, olhou a batata (sim, entrei com o pacotinho dentro do quarto da UTI), e fez menção que queria comer! Sem pensar duas vezes, abrimos o pacotinho para que ela pegasse, e nesse exato momento, a médica responsável pela UTI daquele horário entra no quarto para pegar o prontuário da Nathália! Fomos pegos no flagra! rs. Mas o mais legal foi a frase da médica: “eu vou fingir que não vi uma nenê de 1 ano, comendo batata frita do Mc DENTRO da UTI. Tchau”. Acho que rimos por uns 10 minutos e nada preocupados ou com peso na consciência de ter dado a batata para a Nathália, que não comia há dias e que no final, só deu uma mordida na batata... rsrsrsrs

Bom, na quinta-feira ela já estava no quarto. As manchas vermelhas quase que desaparecidas por completo. Ela já estava começando a comer um pouco e seu astral retomando.

A Nathália sempre foi espoleta, ao contrário do irmão gêmeo, super calmo e na dele. Ela sempre foi de se arriscar mais, de subir em tudo, de aprontar todas... E eu sempre a repreendendo. Naquela quinta-feira, o que eu mais pedia era que ela voltasse a ser aquela criança sapeca derrubando tudo,para termos alta no dia seguinte.

Chegou então, o dia mais feliz... a sexta-feira da alta... A Nathália, mais alegrinha, querendo tirar os acessos das mãos, dos pés... querendo andar pelo quarto (mesmo que não tivesse forças, depois de 5 dias deitada em uma cama),querendo subir na pia do banheiro e muitas mais peraltices...Um dia longo, o tempo não passava. A alta só saiu por volta das 21:00hrs. Minha felicidade era dupla, de ver a minha filha curada e pronta para seguir a vida e uma saudade que explodia do peito do André, que ficou em casa esses dias aos cuidados da babá e do maridão.

O mesmo Dr. Márcio Miasato que nos deu a notícia domingo que viria a mudar nossas vidas, foi o médico do plantão que deu a alta e agüentou nossa pressão das 18:00 às 21:00 para que todo procedimento fosse feito logo. Queríamos ir embora o mais rápido possível com nossa pequena!

A chegada em casa foi uma felicidade, por ver nossa família junta, renovada e fortalecida novamente. Mas não posso deixar de falar que o André, ao me ver, me virou as costas, emburrou e só falou comigo depois de muito tempo a muito custo. Um dia ele vai entender que a irmãzinha precisava, naquele momento, mais de mim do que ele.

Essa é nossa história, e dentro dessa história, algumas pessoas foram fundamentais...

- Paulo: travamos essa batalha juntos do começo ao fim, você foi o melhor pai do mundo que nossa pequena podia ter nessa semana e PRA SEMPRE.

- Carlito e Vera, meus pais e avós da pequena Nath que nos ajudaram a dar suporte em casa com o pequeno Dedé.

- Renata Cremaschi: grande amiga, médica, que nos visitava no hospital DIARIAMENTE, às vezes até DUAS vezes no dia, se atualizando dos prontuários da Nathália, e me munindo dessas informações, me deixando mais calma.

- Dra. Adriana Melo: pediatra e infectologista que a acompanhou no hospital e a acompanha até hoje nos exames de rotina pós Kawasaki.

- Dr. Gustavo Favaro: cardiopediatra que a acompanhou no hospital e a acompanha até hoje nos ecocardiogramas que serão feitos até que se completem dois anos do diagnóstico.

- Beatriz França: prima e amiga meeeegaaa competente em Design que fez esse Blog, sem ela, esse sonho não teria sido realizado.

13 comentários:

  1. Quando estive com você, em julho, não sabia que a Nath estava passando por isso, amiga... Graças a Deus ela superou e vocês estão em casa novamente. Força e saúde. Beijos para Nath e Dedé, meus sobrinhos-netos-do-coração. E para você e Paulo, parabéns pela luta, pela fé, pela coragem e pela vitória. Felicidades. Beijos

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  2. Parabéns pela iniciativa!!!! Adorei!!! Ficou lindo!!! Com certeza ajudará muita gente! Já estou divulgando!

    A Tata, quando conseguir entender tudo o que aconteceu com ela, terá muito orgulho por ter contado com pessoas tão especiais ao seu lado nesse momento tão difícil...

    Um bom hospital, bons médicos realmente fazem a diferença, mas nada como amor, fé e pensamentos positivos!!!

    Bjão.
    Adri

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  3. Cris, ficou muito bom o blog !! Parabéns ! Não tem como ler e não se emocionar, principalmente para quem tem filhos.

    Parabéns pela iniciativa !

    beijo
    Alê

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  4. Puxa, muito emocionante. Para quem nao viveu a semana com vocês nao tem noção do sofrimento. Dói só de imaginar!
    E parabens pela iniciativa!
    bjos a todos

    Dani

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  5. Cris..... Emoção eh pouco diante do sentimento que transborda ao conhecer seu blog, um pedacinho da história da nossa Meg (se me permite chama lá assim).

    Alem de informativo, este espaço virtual transmite forca, amor, união, esperança! Conhecer um pouco mais de perto a vc e sua linda familia, como já disse e repito, foi um presente!!!

    Parabéns pela coragem, positivismo e senso de humor, transformando essa parte da história de vcs em luta, aprendizado, doação!!!


    Quatro enormes beijos

    Tia Lidi

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    1. Liddddd vc é uma fofa! Conhecer sua família tb foi um presente! Bjão e obrigada pelas lindas palavras! Bjão Cris, a mãe da Meg...rs

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  6. oi cris sou débora minha cunhada elaine me indicou seu bolg, gostei muito do seu relato, neste momento minha filha de 2 anos esta aqui recebendo essa medicação e tenho certeza que tudo isso não passara de um susto. mais é muito bom saber de historias que nos dao motivação para ter certeza do sucesso do tratamento. que Deus abençoe sua familia.

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    1. deh oliveira boa noite! De onde vc é? Como esta sua filha? Se quiser conversar, me mande seu celular! Fé que tudo vai ficar bem! Tenho certeza! Beijos!

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  7. O Dr Gustavo me indicou este blog hj tenho uma filha que teve a síndrome de Kawasaki ficamos 43 dias internadas no Sabará o caso dela foi bem excepcional tomou duas vezes a Imuno e ainda teve fazer um outro tratamento chamado psicoterapia por conta da não resposta a medicação. Desses 43 dias passamos um bom tempo dentro da Uti a Mariana esteve entubada por cerdas de 20 dias. Enfim foi uma luta mas a primeira parte foi vencida graças a Deus. Passamos com o Dr Gustavo a cada dois meses e foi Deus q colocou ele nas nossas vidas como todos que trataram a Mariana.
    Amei a indicação do seu blog eh tão bom perceber q a nossa Vitória eh a Vitória de outra pessoa meu nome é Janaína passamos por isso no dia 01 de agosto 2012 minha guerreira daqui 15 dias completará seu primeiro ano de vida.

    Email: janaina.pereira@hotmail.com

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  8. Corrigindo o tratamento que ela fez desculpe o corretor ortografico do meu celular o tratamento correto chama PULSOTERAPIA
    CORTICOIDE EM DOSE ALTA

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  9. Janaina passei pelo mesmo problema em maio 2012 meu filho Vinícius ia completar 2 anos qdo foi diagnosticado essa síndrome, tambem no Sabará, que luta não é mesmo? também foi tratado pela Dra. Adriana...bjs
    Cássia
    OBS: te achei no facebook comentando sobre essa sindrome no face do sabará.

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  10. Quem me indicou esse blog foi o Dr Gustavo esse blog eh da Cris mas eh muito bom não achou? Nossa nem fale de luta minha bebê foi em agosto e nossa luta durou 43 dias continua ainda na verdade Pq mesmo sendo diagnosticada no 6º dia com Kawasaki o caso da.mInha princesa foi bem excepcional Pq ela não respondeu ao tratamento da Imunoglobulina e está com as 4 coronárias dilatadas ainda (sequela) Cassia mas Deus não faz a obra pela metade minha bebe na época ainda iria completar 6 meses. E o Seu filho k Vinicius como está?

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  11. Cassia, bom dia. Voc~e deve ter visto meu comentário no face do sabará...Preciso difundir essa doença a fim de que outras pessoas consigam ver os sinais e identificar a tempo para que nossos pequenos sejam atendidos a tempo já que se trata de uma doença rara e grave. Fique a vontade para escrever, qualquer coisa meu email é: natheokawasaki@hotmail.com
    Obrigada e beijos ao Vinicius

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